Morre o rapaz espancado por ser filho de pais homossexuais

quinta-feira, março 12, 2015 Rafael Berredo 5 Comentários

Fonte: R7
Desde que eu escrevo pra blogs e/ou colunas que nunca me doeu tanto falar sobre uma pauta. Morreu nesta segunda-feira o adolescente, filho de um casal gay, após ser espancado em sua escola apenas por ser filho de quem era. Peterson foi espancado por um grupo de garotos, na Grande São Paulo, foi internado em estado grave e morreu devido a complicações. O laudo médico informou aneurisma.
O que torna esse crime tão bárbaro é o fato de que ele foi espancado na frente do irmão e essa marca não será apagada do coração deste garoto. Nada que façamos fará com que este rapaz se esqueça do seu irmão sendo morto, mas podemos evitar que mais famílias sofram
Peterson tinha apenas 14 anos e, sem dúvidas, um futuro brilhante. Vejo que alguns omitem o motivo de sua morte. É bom que seja dito que ele foi morto por HOMOFOBIA. Eu sou o Peterson, você é o Peterson, nós somos o Peterson, que apesar de heterossexual, foi morto por crime de ódio. Peterson foi mais uma vítima da homofobia, alimentada por políticos ordinários e nada comprometidos com a evolução dos direitos humanos. Peterson foi mais uma vítima da omissão do nosso congresso. Peterson foi mais uma vítima de uma sociedade que clama por socorro, mas é ignorada por aqueles que deveriam a representar. Coincidência ou não, ele morreu no mesmo dia em que nossa presidenta sancionou a lei que pune o crime por feminicídio (crime de ódio contra mulheres) e falou pela primeira vez sobre a necessidade de se criminalizar a homofobia. (VEJA AQUI).
Quantos mais morrerão pra que se entenda a gravidade da realidade da população LGBT no nosso país?
Peterson era filho de LGBTs, negro e apenas mais um OLIVEIRA. Não era um Calheiros, não era um Sarney, não era um Collor de Melo. Era um Oliveira. E por esse motivo esse crime não será apurado com a força e rigor que deveria. Essa é a realidade do nosso país, infelizmente. Essa era a realidade desse menino, essa é a minha realidade e essa é a realidade da maioria gritante dos LGBTs brasileiros. É preciso mudar, mas pra isso é preciso que forcemos, pressionemos e gritemos que estamos aqui e merecemos ser ouvidos.
Este crime dói. Dói porque a homofobia chega mais perto de nós, LGBTs e não LGBTs (como foi o caso de Peterson) a cada dia e nos oprime como se tivéssemos de viver clandestinamente.  Dói porque essa semana um amigo quase foi espancado em Sobradinho (cidade satélite do DF) e só não o foi porque pulou o balcão de uma loja. Essa é a dor que me move a continuar militando pela causa que eu abracei e ergui como bandeira.  E se a intenção é me calar, não me calarão.
Na contramão das necessidades LGBTs, nosso Congresso (aquele que não nos representa) desarquivou o cômico estatuto da família, que tipifica quais os tipos de núcleos familiares deverão ser amparados pelo Estado. Ao que tudo indica, teremos que esperar mais alguns anos pra que o nosso clamor seja atendido, a não ser que levantemos as armas que temos para pedir igualdade de direitos. Essa arma é a nossa voz, essa arma é o nosso voto.
São por casos como o de Peterson que notamos a necessidade de uma lei que criminalize a homofobia e que nos dê respaldo pra que possamos sair à rua sem o medo de não voltarmos pra casa.
À comunidade LGBT eu só posso pedir que lute. Eu luto por mim. Eu luto pelo Peterson. Luto pelo Peterson. LUTO!

Segue o depoimento do meu amigo, Yuri Turate, também militante da causa LGBT, quase agredido pelos fiscais da heterossexualidade:


Era de tarde. Como de costume fui pagar as contas no centro de Sobradinho. Por ser o centro a gente sempre esbarra com conhecidos. Estava conversando com uma amiga entre 17:40 e 18:00. De repente dois caras de bicicleta deram um rasante e começaram com aquelas frases já conhecidas por nós: "Vira homem", "fala igual homem", "veado". Havia um beco na frente, onde eles pararam e continuaram a falar mais alto. Minha reação foi me esconder na loja onde eu estava na frente e pular o balcão dela. Sumiram! Assim como eu, minha amiga ficou sem reação. Eu fiquei muito.. Ah, não sei como definir o que eu senti. Com medo, confuso, revoltado... Liguei pra minha prima e pedi carona para a faculdade. Pelo menos até metade do caminho. O único lugar onde pensei depois da minha casa. Não quis ir para casa porque um dia antes minha mãe se comoveu muito com o falecimento do filho daquele casal gay. Não queria assustá-la. Na metade do caminho peguei um taxi até a faculdade porque não queria ter contato com ninguém. Estava desnorteado, com muito medo. Me afetou tanto e de uma maneira que só agora, 24h depois, eu vejo o quanto  me afetou. Chegando na faculdade, mandei mensagem para duas amigas que estudam lá também e desabei. Acho que se eu não tivesse me escondido e estivesse sozinho, sem ninguém por perto, teriam me agredido. [agredido mais]. Desabei. Fiquei atordoado, o susto foi grande, passei muito mal. Lágrimas não foram o suficiente pra sair a revolta que eu senti. Demorei muito a dormir pensando no ocorrido. E eu não temo só por mim. Eu tenho contato com centenas de jovens e adultos que sofrem diariamente com isso. Lutar pelo respeito e igualdade mais do que nunca se tornou meu maior objetivo na vida!”

Rafael Berredo

AUTOR

Rafael Berredo. Aquariano, impulsivo, umbandista e eternamente inconstante. Atuante em causas sociais, vive em busca de projetos humanitários e da paz interior. Apaixonado por música e adepto da filosofia de mesa de boteco. Ativista da nossa coluna LGBT.

5 comentários:

  1. Misericórdia =(
    dói saber que ainda vivemos em um mundo tao intolerante assim!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    :'(((

    Que Deus abençoe Peterson e que os pais tenham muita força pra superar essa atrocidade :////

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  2. Na minha cabeça é tão óbvio que cada um escolhe o que quer da sua vida e faz isso tranquilamente, se quer viver com outra pessoa e as duas estão em consentimento, o que os outros tem a ver com isso? Porque as pessoas acham que tem o direito de se meter, de violentar e de mexer com o corpo de alguém? Acham que estão fazendo algum bem, punindo ou algo assim? Sério, não consigo entender. Toda vez que vejo algo tão absurdamente abusivo e violento, fico desesperada e desesperançosa, fico com raiva do mundo em que estamos vivendo, pensando que as coisas nunca vão ter jeito :/


    Beijos
    Brilho de Aluguel

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  3. Cara, eh preciso muita respiração só pra comentar o assunto :x Fico possessa com essa ignorancia sem tamanho
    Engraçado que brasileiro tem mania de chegar la fora e dizer se orgulhar de virem de um pais livre e nao sei o que..
    que aqui é multi culturas, multi costumes, multi racial mas se pararmos pra pensar, ainda somos tao atrasados! ='/
    Se ate nos paises de primeiro mundo existem animais homofobicos, torcedores de futebol racistas e machistas, imagina aqui que tem tanta
    gente com pensamentos ATRASADISSSSSSSSIMOS.
    Mano isso é mais comum do que se pensa, toda semana alguem que conhecemos sofre algum tipo de discriminação
    Minha ex é filha de nordestino e com 29 anos não pode se assumir, semana passada ela foi seguida por ele ate a boate e apanhou na frente dos amigos e da atual dela u.u e o cara ainda ficou gritando pra quem quisesse ouvir que a culpa é da tv, da internet, por querer fazer as pessoas engolirem que "isso é normal". NÓS não somos isso. Somos pessoas u.u

    nao entendo nem nunca vou entender pq uns tem que agredir por nao admitir que haja amor entre pessoas do mesmo sexo, outros tem que debochar e alguns outros animais imbecis acham que matando estarão acabando com nossa condição!!
    e acho que a Dilma demorou pra ter essa postura, ja era pra ela ter feito isso em seu primeiro mandato! E tem mais, ainda acho que ela tem que se assumir tambem, pq assim seria um exemplo de ouro uma presidenta assumida e defendendo os nossos direitos.

    que dó desse menino, com a vida toda pela frente morreu por conta de crueldade e preconceito (u)

    fico tao triste e revoltada que me falta palavras ¬¬

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  4. Eu já estou até em desgaste com esses assuntos que envolvem homofobia, porque é uma coisa tão obvio de que é errada, sabe? Fora que desde bem antes quando a homofobia nem era discutida, pode-se tirar como base a relação entre uma mãe e um filho em que o filho faz alguma merda e a mãe, ao invés de conversar ou ensinar que foi errado e tal, vai e da uma porrada a ponto do filho ir pra escola com marcas no corpo por causa disso, sabe? Vejo a mesma situação, só que muito pior. Já que quem bate normalmente nem é da família e muito menos amigo. Enfim, gostei do post!

    Beijos!
    www.likeparadise.com.br

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  5. Uma vergonha, Rafael! Mas sabe, no fim das contas eu sinto pena de quem comete essas barbaridades, pq somente pessoas muito vazias, frustradas, tristes e SOZINHAS podem se preocupar em violentar inocentes... O destino deles é cruel. E que o Peterson sirva de exemplo para uma luta que ainda vai durar um pouco, mas teremos vitória :') sei que teremos!


    http://www.sobremeninasevodcas.blogspot.com.br/

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